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Teatro Cultura Artística
O Teatro de Cultura Artística começou a ser projetado em 1911, quando o grupo Sociedade Cultura Artística – entidade criada por intelectuais, empresários e profissionais liberais da elite paulistana – adquiriu o terreno de um velódromo localizado na Rua Nestor Pestana.
Assim, o sonho de expandir as produções culturais na cidade começou a se tornar realidade. O teatro original foi planejado pelo conceituado escritório do arquiteto e urbanista Rino Levi, com sua construção se iniciando em 1942. Infelizmente, em 2008, um incêndio de grande proporção destruiu o Teatro Cultura Artística.
Dez anos após esta tragédia da casa de espetáculos, a HTB foi contratada pela Associação Sociedade de Cultura Artística para realizar os serviços de reconstrução e restauro do teatro.
O Teatro de Cultura Artística versão século XXI tem o objetivo de ser um dos mais modernos teatros da cidade de São Paulo. Sem perder as características iniciais que permitiu ao prédio a obtenção de três certificados do Patrimônio Histórico.
Problemas e Oportunidades
Fase I
A HTB iniciou o trabalho de reconstrução e restauro do Cultura Artística em fevereiro de 2018 com previsão de conclusão em 2021.
A estrutura frágil da construção exigiu cuidados extras durante a demolição. Normalmente um trabalho bruto, essa fase solicitou dos profissionais envolvidos muita habilidade para não afetar as partes tombadas pelo Patrimônio Histórico, que seriam restauradas para permanecerem iguais ao projeto original.
O escoramento da fachada, principalmente durante os trabalhos de escavação, contenções e fundações apresentou grande complexidade para evitar o seu colapso.
O prédio ocupava toda a área do terreno. Paredes estruturais do antigo teatro estavam coladas junto às construções vizinhas, como a sede da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo e alguns edifícios residenciais construídos na década de 1950.
Como elas iriam se comportar diante das novas cargas e outras questões complexas do projeto? Tudo indicava que poderiam apresentar problemas estruturais durante a execução da nova obra.
Fase II
A HTB foi destacada para realizar o retrofit do espaço não atingido pelas chamas, reconstruir o que fora destruído e acrescentar o que existe de mais sofisticado para construção de teatros na atualidade.
A restauração e modernização do projeto incluem desde instalações internas como revestimentos, banheiros, iluminação, mobiliário e equipamentos cênicos, até a instalação de uma escultura tridimensional em gesso da artista Sandra Cinto, que aprimora a acústica da sala de concertos.
Além disso, o projeto envolve a busca e instalação de materiais que respeitam o original, como pastilhas de Vidrotil e pisos de parquet. Sistemas de acústica e ar-condicionado de excelência foram implementados para garantir qualidade sonora e conforto térmico.
Foram construídas duas salas de espetáculo, uma com 770 lugares e outra com 150, complementadas por áreas de convívio e educativas.
A fachada e as áreas externas foram renovadas com revestimento de telhas metálicas e vidro, mantendo a volumetria original e estabelecendo um diálogo arquitetônico com a Praça Roosevelt.
Informações - Fase II
Diagnóstico
No que diz respeito às áreas externas (ao alcance dos olhos), a restauração exigiu a busca por fornecedores capazes de reproduzir fielmente os acabamentos desgastados pelo tempo que dificultava a recuperação, como as pastilhas de Vidrotil usadas por Di Cavalcanti. Só na sua obra, o artista carioca utilizou mais de 1,2 milhões delas.
Era certo que os serviços de restauro demandariam tempo e trabalho, afinal, o Teatro Cultura Artística é um exemplo da época áurea da arquitetura modernista brasileira e representante da modernização urbana e da inovação estética da cidade de São Paulo, em meados do século XX.
Solução
Especializada em obras de retrofit e construção complexas, a HTB ofereceu soluções personalizadas que atendessem aos padrões contemporâneos de funcionalidade e segurança, mantendo a integridade arquitetônica e histórica do teatro.
A intenção de dar um toque refinado de contemporaneidade ao espaço surge na esteira do projeto assinado pelo arquiteto Paulo Bruna (único profissional remanescente do escritório de Bruno Levi e responsável pela última grande reforma do teatro, de 1973 a 1977), na participação da arquiteta especializada em restauro Maria Luiza Dutra, da MLD Restauração Arquitetônica Integrada, e no luxo de contar com o auxílio da artista plástica Sandra Cinto, não apenas pelas suas três obras de grande porte a decorar pontos estratégicos do prédio, mas na definição da cor a ser usada nas paredes da sala de concertos.
Obra de Arte
Materializar a instalação tridimensional assinada pela artista plástica Sandra Cinto não estava nos planos da HTB. Até então, os profissionais concentravam-se na recuperação da fachada e dos pisos, na execução das divisórias internas e da imensa moldura de vidro que percorre toda a altura do prédio, na confecção das instalações de ar-condicionado, automação e segurança, enfim, em cada detalhe que envolvia os acabamentos de todas as áreas. Na verdade, nem a Sociedade Cultura Artística imaginava uma obra tão complexa na sua principal sala de audição.
As 450 peças de gesso, com um pouco mais de 1 metro, e as curvas que chegam até 4 metros, foram criadas a partir de moldes em acrílico, na medida programada pela artista, para receber o gesso de forte calibre e sustentar os 20 centímetros de profundidade. Para adaptar as peças à parede, os engenheiros da HTB substituíram uma das muitas camadas de drywall por placas de gesso e chapa de aço para que houvesse uma aderência perfeita.
Cor Original
Sandra Cinto também foi responsável por devolver à grande sala do Teatro Cultura Artística a cor idealizada por Rino Levi. A cor do espaço, como conhecido pelo público, ficava entre os tons beterraba e roxo escuro e, conforme a iluminação poderia até parecer preto. A primeira ideia era dar a ele o tom de azul royal.
A artista considerou a tonalidade fria. De posse dos documentos históricos e com a ajuda das restauradoras, ela descobriu que a cor original era o amarelo-mostarda. O espaço, portanto, voltou ao colorido dos anos 50.
Sala de Espetáculos
A principal sala de espetáculos, com capacidade para 770 pessoas e 14 metros de pé direito, foi modernizada para receber apresentações de música acústica e sonorizada, com recursos técnicos avançados. O foyer do térreo foi restaurado com pisos Soleterrazzo e colunas revestidas de pastilhas de vidro e mármore, conectando o público ao auditório de 150 lugares, ideal para eventos diversos. O foyer superior, com piso de parquet restaurado, exibirá tapeçarias de Sandra Cinto. Além disso, o espaço contará com lojas, livraria e café, abertos durante todo o dia, contribuindo para a revitalização do entorno e mantendo a essência do mobiliário original desenhado por Rino Levi e o Studio D’Arte Palma.
O entorno e fachada
O Teatro Cultura Artística ganhou uma nova abertura para a Praça Roosevelt, resultante da demolição de uma construção adjacente, criando um grande foyer com pé direito de 4 andares e uma parede de vidro que reforça a ideia de transparência original de Rino Levi. O novo prédio, revestido com telhas metálicas e vidro, mantém a volumetria do edifício original, mas apresenta uma linguagem mais racional, distinta da construção dos anos 1950. As laterais do foyer exibirão tapeçarias de Sandra Cinto, promovendo um diálogo visual com o entorno.
Piso e pastilhas
Durante a restauração do Teatro Cultura Artística, foram recuperadas as icônicas pastilhas de vidro Vidrotil, usadas no painel "Alegoria das Artes" e em outras áreas do edifício. Com a falência do fabricante original, as pastilhas foram encontradas e restauradas por uma empresa especializada. O piso do foyer principal, originalmente em Vidrotil azul, foi replicado com mineral sintético Soleterrazzo, após cuidadosa busca por um material que correspondesse à cor original. O piso de parquet do foyer superior foi cuidadosamente removido, restaurado e reinstalado. Além disso, o painel "Alegoria das Artes" foi restaurado, corrigindo alterações feitas em 1977 e devolvendo-lhe a sua forma original.
Salas de prática, camarins e a biblioteca musical
O Teatro Cultura Artística ampliou suas instalações musicais, transformando quatro antigas salas de prática em 11 salas multiuso, que agora servem para ensaios, eventos, atividades educacionais, e programas de ensino à distância com tecnologia digital. Além disso, a área abriga a Biblioteca Musical, que contém o acervo histórico da Sociedade Cultura Artística e conta com moderna tecnologia de segurança. Algumas dessas salas também funcionam como camarins para artistas em noites de espetáculos.
Novos espaços e acessos
Uma nova ala de quatro andares substituirá a antiga doca, abrigando uma nova doca coberta, estacionamento, depósito de instrumentos, camarins, escritórios, salas de reunião e o acervo histórico da instituição. As escadas foram restauradas e novas foram instaladas com amortecedores de vibração para evitar ruídos que possam interferir nas salas musicais. No lado oeste, a HTB construiu um átrio com quatro modernos elevadores, incluindo um para cargas, capaz de transportar um piano de cauda de até 3 toneladas com tecnologia de proteção avançada. O sistema de ar-condicionado da sala de concertos e do auditório foi projetado para garantir a qualidade acústica e possui um mecanismo de segurança que inverte o fluxo de ar em caso de incêndio para remover a fumaça.
Informações - Fase I
Diagnóstico
Por se tratar de um processo minucioso de restauração, todo o material encontrado no interior do teatro após o incêndio que pudesse ser reutilizado, deveria ser preservado para uso futuro. Portanto, seria necessário encontrar um local adequado para o armazenamento desse material, fora do espaço apertado do terreno e distante da obra.
No que se relacionava às fundações e à estrutura, uma equipe de projetistas especializada no assunto mapeou o local para detectar a situação em que se encontrava a área. As estruturas antigas não aguentariam a carga da nova construção, então, seria necessário encontrar uma solução que atendesse a necessidade da obra e preservasse as partes a serem restauradas do prédio antigo, além de resguardar as construções vizinhas.
Como não havia conhecimento do que existia de contenções e o que estava apoiado nesses locais, foi realizado um profundo estudo para detectar onde haveria necessidade de demolição. Foi concluído que grande parte das fundações do prédio antigo poderia interferir nas novas estruturas a serem colocadas, havendo risco de esbarrarem umas nas outras, causando sérios danos às duas partes. Os problemas de logística exigiram contato afinado com a Prefeitura de São Paulo. Sem área de armazenamento, a entrega e retirada dos materiais esbarrou em problemas de difícil solução: ruas apertadas que dificultavam o tráfego de caminhões e a Zona Azul, que funcionava como estacionamento ao público em geral e estava na mira de longos períodos de rush.
Solução
A falta de espaço no terreno ocupado pela estrutura do teatro e as dificuldades provocadas pelo adensamento dos arredores obrigou a construtora a sobrepor as atividades para cumprir o prazo contratado. Atrasos na obra iriam gerar ainda mais custos para a Sociedade Cultura Artística.
Assim, a HTB desenvolveu com seus parceiros e fornecedores um cronograma de construção. Das discussões, foi decidido utilizar a sequência construtiva, um processo que determina quais peças seriam entregues em um determinado momento.
Essa decisão estendeu-se para todos os tipos e portes de materiais. Após as negociações, a prefeitura liberou o terreno próximo à obra que abriga uma praça para a colocação do material necessário.
A primeira etapa do trabalho foi mapear toda a estrutura existente e marcar exatamente o que tinha de ficar ou sair. Em seguida, a empresa optou por sensibilizar os funcionários da obra sobre a necessidade de preservação de cada um desses elementos e sobre a importância desse trabalho tão delicado. A parte encostada nos prédios vizinhos e na igreja exigiria demasiado cuidado para não afetar as construções ao lado.
Paralelamente à demolição, correria o trabalho de prospecção das fundações existentes que permaneceram intactas. Foi realizada uma prospecção para mostrar onde exatamente a fundação original poderia causar interferência na nova.
A HTB decidiu pelo uso de estruturas metálicas nas paredes combinadas com blocos estruturais de concreto preenchidos com graute, utilizados no lugar do concreto moldado in loco, que se mostrou viável tecnicamente. O seu uso teve como preocupação um resultado com excelência para a sua função: uma sala de concerto.
Implantação
A HTB partiu do mapeamento do material que deveria ser retirado ou mantido após a ação do fogo, conforme indicado no projeto de restauro assinado pela MLD. A construtora também fez o seu próprio mapeamento para detectar se a estrutura estava confiável ou seria necessário realizar algum reforço.
O método de solo grampeado foi usado como contenção provisória e depois foi usada uma contenção com perfis metálicos (tipo de contenção que pode ser provisória ou definitiva). Tudo porque o desnível de escavação do terreno era bem mais baixo do que o térreo dos vizinhos.
A contenção definitiva foi realizada com perfis metálicos com placas de concreto, preenchidas com concreto, aço e tirantes para não deixar os perfis dobrarem no sentido do terreno antes do travamento da estrutura.
O trabalho de fundação também utilizou perfis metálicos. A previsão de cravação girava em torno de 50 a 60 metros de profundidade, mas em alguns casos, chegava a 86 metros.
Estrutura Metálica
Durante a fase de projetos, a escolha recaiu sobre a estrutura metálica de 630 toneladas, não soldada, mas montada com parafusos. Foram utilizados 58 mil parafusos. O uso desse tipo de estrutura teve como preocupação chegar a um resultado com excelência para a sua função: uma sala de concerto. Ela foi concebida como se fosse um pórtico central, onde ficam a sala de concerto e o auditório, separada das áreas técnicas e administrativas que se apoiam por meio de elementos de fixação (amortecedores) para não transmitir vibrações para a estrutura principal da sala de concerto.
A montagem da estrutura exigiu a utilização de uma grua com capacidade para 4,5 toneladas. Em algumas partes da obra, ela precisou do auxílio de um ou dois guindastes, colocados ao redor.
O teatro tinha uma única estrutura antiga, com especificações muito diferentes das utilizadas atualmente. As exigências legais atuais e da modernização do teatro poderiam gerar esforço excessivo na estrutura original, não havendo possibilidade de uni-las. Assim, elas são independentes e trabalham de forma separada. Essa separação não fica explícita aos olhos.
Acústica
Toda a preocupação com a acústica começou nos estágios iniciais do projeto. Todas as peças são seccionadas para impedir a entrada de qualquer ruído. Na vedação, as juntas nas faces inferior e superior são soldadas com aço, que dão integridade a essa parede.
A HTB realizou uma fiscalização intensa, mapeando tanto a execução, como os amortecedores de vibração, que poderiam ser comprometidos durante a execução da alvenaria, portanto, precisavam ser protegidos conforme o trabalho era realizado. Hoje, o prédio está completamente coberto e vedado, protegido das adversidades.
Restauro
Todo o material que estava no teatro durante o incêndio foi armazenado em guarda-móveis, para que não sofressem com a primeira fase da obra, que é mais bruta. As paredes com tijolinhos que havia no local foram demolidas através de um trabalho cirúrgico. As peças de barro foram retiradas com muito cuidado para serem reutilizadas no restauro da segunda fase.
Vizinhança
O bate-estaca utilizado para cravar os perfis metálicos na terra faz um barulho intenso. Como o projeto pedia a colocação de muitos perfis, a HTB reuniu-se com os membros dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG) para expor a situação.
O resultado foi uma flexibilização do horário das obras. De segunda a sexta-feira, com início a partir das 8h, evitando ao máximo trabalhar aos sábados
Também foram contatados os representantes da Igreja ao lado e usuários dos prédios vizinhos. Todos os danos de responsabilidade da obra foram reparados. No caso do templo, o trabalho foi ainda mais cuidadoso. Diariamente um profissional da HTB visitava o local para acompanhar o que acontecia por lá.
Resultados
Com área total construída de 7.543 m², o espaço renovado abrigará a programação da Sociedade Cultura Artística e atenderá às demandas da cidade e do público. O prédio receberá, também, um novo instituto dedicado à difusão da música e formação de jovens músicos.
Com uma sala que abrigará apresentações de musicais de médio e pequeno portes e um auditório de uso múltiplo, o espaço também possuirá generosos ambientes de uso comum, como restaurante, sorveteria e livraria. Segundo a Sociedade de Cultura Artística, o novo objetivo é oferecer algo que São Paulo não possui: um espaço dedicado à música de câmara.
A finalização da segunda fase inclui as necessidades internas do prédio, como revestimentos, banheiros, iluminação, mobiliário, parte cênica, equipamentos e instalações em geral.
Após a conclusão da obra, o Teatro de Cultura Artística será candidato à Certificação Leed Gold. Afinal, a reforma e o restauro foram desenvolvidos nos mais rígidos padrões internacionais de sustentabilidade, o que também contribui para que ele seja referência em apresentações de música de câmera e de música antiga.